domingo, 30 de outubro de 2011

Aristóteles

Aristóteles, princípios e história.

Aristóteles (em grego Αριστοτέλης) nasceu em Estagira, na Calcídica (384 a.C. - 322 a.C.). Filósofo grego, aluno de Platão e professor de Alexandre, o Grande, é considerado um dos maiores pensadores de todos os tempos e criador do pensamento lógico.
Aristóteles figura entre os mais influentes filósofos gregos, ao lado de Sócrates e Platão, que transformaram a filosofia pré-socrática, construindo um dos principais fundamentos da filosofia ocidental. Aristóteles prestou contribuições fundantes em diversas áreas do conhecimento humano, destacando-se: ética, política, física, metafísica, lógica, psicologia, poesia, retórica, zoologia, biologia, história natural.
É considerado por muitos o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental, a exemplo das palavras que ele criou e que passaram para quase todas as linguas modernas (atualidade, axioma, categoria, energia, essência, potencial, potência, tópico, virtualidade e muitas outras). Sua influência também pode ser percebida na obra "A Divina Comédia" de Dante Alighieri já que toda a astronomia dantesca se funda em Aristóteles e seus comentadores.
Foi chamado por Augusto Comte de "o príncipe eterno dos verdadeiros filósofos", por Platão de "o leitor" (pela avidez com que lia e por se ter cercado dos livros dos poetas, filósofos e homens da ciência contemporâneos e anteriores) e, pelos pensadores árabes, de o "preceptor da inteligência humana". Por ter estudado uma variada gama de assuntos, e por ter sido também um discípulo que em muito sentidos ultrapassou o mestre, Platão. É conhecido também como "O Filósofo". Aristóteles também foi chamado de o estagirita, pela sua terra natal, Estagira.
Aristóteles contribuiu para o desenvolvimento de muitas ciências, mas, em retrospectiva, percebe-se que o valor desse contributo foi bastante desigual. A sua química e a sua física são muito menos impressionantes do que as suas investigações no domínio das ciências da vida. Mesmo que, por exemplo, sua física tenha sido ultrapassada, seus escritos zoológicos continuavam a ser considerados impressionantes pelo próprio Darwin. 
Video sobre Aristóteles:


Metafísica

O termo "Metafísica" não é aristotélico; o que hoje chamamos de metafísica era chamado por Aristóteles de filosofia primeira. Esta é a ciência que se ocupa com realidades que estão além das realidades físicas que possuem fácil e imediata apreensão sensorial.
O conceito de metafísica em Aristóteles é extremamente complexo e não há uma definição única. O filósofo deu quatro definições para metafísica:
a ciência que indaga causas e princípios;
a ciência que indaga o ser enquanto ser;
a ciência que investiga a substância;
a ciência que investiga a substância supra-sensível.
Os conceitos de ato e potência, matéria e forma, substância e acidente possuem especial importância na filosofia aristotélica.

Matéria e Forma


A substância de um objeto é dada por sua materia e por sua forma. A matéria consiste nos elementos fisicos que constituem a coisa. Já a forma tem um conceito mais complexo: eça é a estrutura interna na qual a matéria está organizada, que a "modela"de modo que a coisa seja reconhecida como é. Forma e matéria juntas, mostram-se ao homem através das informações captadas por nossos sentidos. A forma é o aspecto metafísico, que jundo da matéria (aspecto físico) cria o mundo.

Essência e acidente

Aristóteles distingue, também, a essência e os acidentes em alguma coisa.
A essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é; é o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo (por exemplo: um livro sem nenhum tipo de letras não pode ser considerado um livro, pois o fato de ter letras é o que permite-o ser identificado como "livro" e não como "caderno" ou meramente "papel em branco").
O acidente é algo que pode ser inerente ou não ao ser, mas que, mesmo assim, não descaracteriza-se o ser por sua falta (o tamanho de uma flor, por exemplo, é um acidente, pois uma flor grande não deixará de ser flor por ser grande; a sua cor, também, pois, por mais que uma flor tenha que ter, necessariamente, alguma cor, ainda assim tal característica não faz de uma flor o que ela é).


Potência, ato e movimento

Todas as coisas são em potência e ato. Uma coisa em potência é uma coisa que tende a ser outra, como uma semente (uma árvore em potência). Uma coisa em ato é algo que já está realizado, como uma árvore (uma semente em ato). É interessante notar que todas as coisas, mesmo em ato, também são em potência (pois uma árvore - uma semente em ato - também é uma folha de papel ou uma mesa em potência). A única coisa totalmente em ato é o Ato Puro, que Aristóteles identifica com o Bem. Esse Ato não é nada em potência, nem é a realização de potência alguma. Ele é sempre igual a si mesmo, e não é um antecedente de coisa alguma. Desse conceito Tomás de Aquino derivou sua noção de Deus em que Deus seria "ato puro".
Um ser em potência só pode tornar-se um ser em ato mediante algum movimento. O movimento vai sempre da potência ao ato, da privação à posse. É por isso que o movimento pode ser definido como ato de um ser em potência enquanto está em potência.


As quatro causas

Para Aristóteles, existem quatro causas implicadas na existência de algo:
A causa material (aquilo do qual é feita alguma coisa, a argila, por exemplo);
A causa formal (a coisa em si, como um vaso de argila);
A causa eficiente (aquilo que dá origem ao processo em que a coisa surge, como as mãos de quem trabalha a argila);
A causa final (aquilo para o qual a coisa é feita, cite-se portar arranjos para enfeitar um ambiente).
A teoria aristotélica sobre as causas estende-se sobre toda a Natureza, que é como um artista que age no interior das coisas.


A astronomia de Aristóteles:

A astronomia de Aristóteles era Geocêntrica, e talvez este seja um dos aspectos da sua física, que mais marcou a história do ocidente. As orbitas planetarias em dispostas pela velocidade dos astros, sendo organizada do mais rápido (terra e lua no centro) para o mais lento, como vemos à esquerda.

Além das estrelas fixas estaria o SER, princípio metafísico puro, motor imóvel do universo.








Ética, Política e a condição da mulher:

Segundo as palavras do próprio filósofo:


"(...) da mesma forma que o homem e a mulher são parte da família, é óbvio que a cidade também é dividida em uma metade de população masculina e outra metade de população feminina, de tal forma que em todas  as constituições nas quais a posição das mulheres é mal ordenada se pode considerar que metade da cidade não tem leis. Foi isto que aconteceu na Lacedemônia, pois o legislador, querendo que toda a comunidade  fosse igualmente belicosa, atingiu claramente o seu objetivo com relação aos homens, mas falhou quanto às mulheres que vivem licenciosamente,entregues a todas as formas de depravação e da maneira mais luxuriosa. Disto resulta inevitavelmente que numa cidade assim estruturada a riqueza é excessivamente apreciada, especialmente se os homens se deixam governar pelas mulheres (...) Existia tal característica entre os Lacedemônios, e no período de sua hegemonia muitos assuntos eram decididos pelas mulheres (...) as mulheres se tornaram possuidoras de cerca de dois quintos de todo o território da Lacedemônia, por causa do grande número delas que herda propriedades e da prática de dar grandes dotes (...) o mau comportamento da mulher não somente infunde um ar de licenciosidade à própria constituição, mas  também tende de certo modo a estimular o amor à riqueza” (Aristóteles, Política, VI, 1270 a-b, pp. 60-61).

Segundo Maria da Graça Ferreira Schalcher, tal passagem da Política recoloca em questão a fraqueza da mulher, não apenas na dimensão fisiológica, mas investida de uma conotação ético-metafísica com as relações entre a alma e o corpo, e entre as partes da alma, uma provida e a outra desprovida de razão; a primeira constituindo o elemento hegemônico e a segunda, o elemento subordinado. Ainda que Aristóteles afirme, sublinha Schalcher, em coerência com o fato de a mulher pertencer ao gênero humano, que todas as partes da alma estão nela presentes, ele considera essa presença de forma distinta em relação ao homem, pois apesar de a mulher possuir a capacidade de deliberar, falta a ela a capacidade de decidir (Schalcher, 1998: 338).

Texto e referências retirados de:
Considerações sobre a condição da mulher na Grécia Clássica (sécs. V e IV a.C.)
Considerations about the Woman’s condition in Classical Greece (5th and 6th centuries)

sábado, 29 de outubro de 2011

Parmênides e os princípios da metafísica

Parcialmente desconsiderando o sentido cronológico, estamos estudando alguns filósofos pré-socráticos depois de estudar um pouco de Sócrates, Platão e Aristóteles. Cotinuaremos fazendo menção aos pré-socráticos sempre quando necessário, sobretudo para entendermos as origens das questões filosóficas. Tomemos o quadro a seguir como um referencial:


Parmênides:  sua polêmica contra Heráclito.
Por Gabriel Garcia Morente

Parmênides de Eléia introduz a maior revolução que se conhece na história do pensamento humano. Parmênides de Eléia leva a efeito a façanha maior que o pensamento ocidental europeu realizou em
vinte e cinco séculos; tanto, que continuamos ainda hoje vivendo nos mesmos trilhos e caminhos filosóficos que foram abertos por Parmênides de Eléia, e por onde este impeliu, com um impulso gigantesco, o pensamento filosófico humano.
Eléia é uma pequena cidade do sul da Itália que deu seu nome à escola de filósofos influenciados por Parmênides, que nas histórias da filosofia se chama "escola eleática", porque todos eles foram dessa mesma cidade de Eléia.
A filosofia de Parmênides não pode ser bem compreendida se não se coloca em relação polêmica com a filosofia de Heráclito. O pensamento de Parmênides amadurece, cresce, se multiplica em vigor e esplendor, à medida que vai empreendendo a crítica de Heráclito. Desenvolve-se na polêmica contra Heráclito.
Parmênides se defronta com a solução que Heráclito dá ao problema metafísico. Analisa esta solução e constata que, segundo Heráclito, resulta que uma coisa é e não é ao mesmo tempo, visto que o ser consiste em estar sendo, em fluir, em devir. Parmênides, analisando a idéia mesma de devir, de fluir, de mudar, encontra nessa idéia o elemento de que o ser deixa de ser o que é para tornar-se outra coisa, e, ao mesmo tempo que se torna outra coisa, deixa de ser o que é para tornar-se outra coisa. Verifica, pois, que dentro da idéia do devir há uma contradição lógica, há esta contradição: que o ser não é; que aquele que é não é, visto que o que é neste momento já não é neste momento, antes passa a ser outra coisa. Qualquer olhar que lancemos sobre a realidade nos confronta com uma contradição lógica, com um ser que se caracteriza por não ser. E diz Parmênides: isto é absurdo; a filosofia de Heráclito é absurda, é ininteligível, não há quem a compreenda. Porque como pode alguém compreender que o que é não seja, e, o que não é seja? Não pode ser! Isto é impossível! Temos, pois, que opor às contradições, aos absurdos, à ininteligibilidade da filosofia de Heráclito um princípio de razão, um principio de pensamento que não possa nunca falhar. Qual será este princípio? Este: o ser é; o não—ser não é. Tudo o que fugir disto é despropositado, e jogar-se, precipitar-se no abismo do erro. Como se pode dizer, como diz Heráclito, que as coisas são e não são? Por que a idéia do devir implica necessariamente, como seu próprio nervo interior, que aquilo que agora é, já não é, visto que todo momento que tomamos no transcurso do ser, segundo Heráclito, é um trânsito para o não-ser do que antes era, e isto é incompreensível, e isto é ininteligível. As coisas têm um ser, e este ser, é. Se não têm ser, o não-ser não é.
Se Parmênides se tivesse contentado em fazer a crítica de Heráclito teria feito já uma obra de importância filosófica considerável. Porém, não se contenta com isso, mas antes acrescenta à crítica de Heráclito uma construção metafísica própria. E como leva a efeito esta construção metafísica própria? Pois leva-a a efeito partindo desse princípio, de razão que ele acaba de descobrir. Parmênides acaba de descobrir o princípio lógico do pensamento, que formula nestes termos categóricos e estritos: o ser é; o não-ser não é. E tudo o que se afastar disso será corrida em direção ao erro.

35.   O Ser e suas qualidades.

Este princípio, que descobre Parmênides e que os lógicos atuais chamam "princípio de identidade", serviu-lhe de base para a sua construção  metafísica. Parmênides diz: em virtude desse princípio de identidade (é claro que ele não o chamou assim; assim o denominaram muito depois os lógicos), em virtude do princípio de que o ser é, e o não-ser não é, princípio que ninguém pode negar sem ser declarado louco, podemos afirmar acerca do ser uma porção de coisas. Podemos afirmar, primeiramente, que o ser é único. Não pode haver dois seres; não pode haver mais que um só ser. Porque suponhamos que haja dois seres; pois, então, aquilo que distingue um do outro "é" no primeiro, porém "não é" no segundo. Mas se no segundo não é aquilo que no primeiro é, então chegamos ao absurdo lógico de que o ser do primeiro não é no segundo. Tomando isto absolutamente, chegamos ao absurdo contraditório de afirmar o não-ser do ser. Dito de outro modo: se há dois seres, que há entre eles? O não-ser. Mas dizer que há o não-ser é dizer que o não-ser, é. E isto é contraditório, isto é absurdo, não tem cabimento; essa proposição é contrária ao princípio de identidade.
Portanto, podemos afirmar que o ser é único, um. Mas ainda podemos afirmar que é eterno. Se não o fosse, teria princípio e teria fim. Se tem princípio, é que antes de começar o ser havia o não ser. Mas, como podemos admitir que haja o não-ser? Admitir que há o não-ser, é admitir que o não-ser é. Admitir que o não-ser é, é tão absurdo como admitir que este cristal é verde e não-verde. O ser é, o não-ser não é. Por conseguinte, antes que o ser fosse, havia também o ser; quer dizer, que o ser não tem princípio. Pela mesma razão não tem fim, porque se tem fim é que chega um momento em que o ser deixa de ser. E depois de ter deixado de ser o ser, que há? O não-ser. Mas, então, temos que afirmar o ser do não-ser, e isto é absurdo. Por conseguinte, o ser é, além de único, eterno.
Mas não fica nisto. Além de eterno, o ser é imutável. O ser não pode mudar, porque toda mudança do ser implica o ser do não-ser, visto que toda mudança é deixar de ser o que era para ser o que não era, e, tanto no deixar de ser como no chegar a ser, vai implícito o ser do não-ser, o que é contraditório.
Mas, além de imutável, o ser é ilimitado, infinito. Não tem limites ou, dito de outro modo, não está em parte alguma. Estar em uma parte é encontrar-se em algo mais extenso e, por conseguinte, ter limites. Mas o ser não pode ter limites, porque se tem limites, cheguemos até estes limites e suponhamo-nos nestes limites. Que há além do limite? O não-ser. Mas então temos que supor o ser do não-ser além do ser. Por conseguinte o ser não pode ter limites e se não pode ter limites, não está em parte alguma e é ilimitado.
Mas há mais, e já chegamos ao fim. O ser é imóvel, não pode mover-se, porque mover-se é deixar de estar num lugar para estar em outro. Mas como predicar-se do ser — o qual, como acabamos de ver, é ilimitado e imutável — o estar em um lugar? Estar em um lugar supõe que o lugar onde está é mais amplo, mais extenso que aquilo que está no lugar. Por conseguinte, o ser, que é o mais extenso, o mais amplo que há, não pode estar em lugar algum, e se não pode estar em lugar algum, não pode deixar de estar no lugar; ora: o movimento consiste em estar estando, em deixar de estar num lugar para estar em outro lugar. Logo o ser é imóvel.
Se resumirmos todos esses predicados que Parmênides atribui ao ser, encontramos que o ser é único, eterno, imutável, ilimitado e imóvel. Já encontrou bastante coisa Parmênides. Mas, ainda vai além.

Tendo entendido as qualidades do Ser vejamos uma video-aula sobre o assunto:


36.   Teoria dos dois mundos.

Evidentemente, não podia escapar a Parmênides que o espetáculo do universo, do mundo das coisas, tal como se oferece aos nossos sentidos, é completamente distinto deste ser único, imóvel, ilimitado,  mutável e eterno. As coisas são, pelo contrário, movimentos, seres múltiplos que vão e vêm, que se movem, que mudam, que nascem e que perecem. Não podia, pois, passar despercebido a Parmênides a oposição em que sua metafísica se encontrava frente ao espetáculo do universo. Então Parmênides não hesita um instante. Com esse sentido da coerência lógica que têm as crianças (neste caso Parmênides é a criança da filosofia) tira corajosamente a conclusão: este mundo heterogêneo de cores, de sabores, de cheiros, de movimentos, de subidas e descidas, das coisas que vão e vêm, da multiplicidade dos seres, de sua variedade, do seu movimento, de sua heterogeneidade, todo este mundo sensível é uma aparência, é uma ilusão dos nossos sentidos, uma ilusão da nossa faculdade de perceber. Assim como um homem que visse forçosamente o mundo através de uns cristais vermelhos diria: as coisas são vermelhas, e estaria errado: do mesmo modo quando dizemos: o ser é múltiplo, o ser é movediço, o ser é mutável, o ser é variadíssimo, estamos errados. Na realidade, o ser é único, imutável, eterno, ilimitado e imóvel.
Declara então Parmênides, resolutamente, que a percepção sensível é ilusória. E imediatamente, com a maior coragem, tira outra conclusão: a de que há um mundo sensível e um mundo inteligível. E pela primeira vez na história da filosofia aparece esta tese da distinção entre o mundo sensível e o mundo inteligível, que dura até hoje.

domingo, 9 de outubro de 2011

Platão, a Metafisica da caverna e Planolândia

PLATÃO E O MUNDO DAS IDÉIAS


Platão de Atenas (Atenas,428/27– Atenas, 347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Arístocles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua característica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos) em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

O mito da caverna

O mito da caverna, também chamada de Alegoria da caverna, é uma parábola escrita pelo filósofo, e encontra-se na obr platonica intitulada 'A República' (livro VII). Trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona através da luz da verdade.

Vamos a um vídeo sobre o mito da caverna:



Interpretação da alegoria


Platão referia-se na "alegoria da caverna" aos seus contemporâneos. O filósofo era como um fugitivo, que seria capaz de fugir das amarras que prendem o homem comum às suas falsas crenças e, partindo na busca da verdade, consegue apreender um mundo mais amplo. O filósofo, ao falar destas verdades para os homens afeitos às ilusões, não seria compreendido e seria tomado por mentiroso, um corruptor da ordem vigente.
O mito da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum  para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas não no acaso, mas na causalidade.
Segundo Platão, o processo para a obtenção da consciência abrange dois domínios: o domínio das coisas sensíveis (eikasia e pístis) e o domínio das idéias (diánoia e nóesis). Para o filósofo, a realidade está no mundo das idéias e a maioria da humanidade vive na condição da ignorância, no mundo ilusório das coisas sensíveis, no grau da apreensão de imagens (eikasia) que são meras representações (as sombras), as quais são mutáveis, corruptiveis, não são funcionais e, por isso, não são objetos de conhecimento verdadeiro.

Se a interpretação dada até aqui tem um carater mais pedagógico, psicológico e social, não podemos deixar de dar atenção a outra interpretação do mito da caverna, que retrata uma problematica geométrica, e espressa o lado epistemológico do mito. Platão, que colocou no alto da porta de sua academia, a célebre frase "Não entre aqui quem não souber geometria" destacava este tipo de interpretação, que era a base de seu raciocinio.

O video abaixo é baseado no livro "Planolândia", escrito pelo clérigo inglês Edwin Abbott em 1884. Protegido da crítica, em sua primeira edição, pelo pseudônimo de "A. Square”. Abbott satiriza os preconceitos da sociedade inglesa vitoriana criando um mundo de duas dimensões. Planolândia  pode ser baixado em: http://www.icmc.usp.br/~walmarar/aulas2011/flat.pdf.


Vamos ao vídeo:


Teoria atómica de Platão

No livro Timeu, escrito por volta do ano de 350 a.C., Platão apresenta a teoria segundo a qual os quatro "elementos" admitidos como constituentes do mundo - o fogo, o ar, a água e a terra - eram todos agregados de sólidos minúsculos. Além disso, defendia ele, uma vez que o mundo só poderia ter sido feito a partir de corpos perfeitos, estes elementos deveriam ter a forma de sólidos regulares.
O fogo, sendo o mais leve e o mais violento dos elementos deveria ser um tetraedro.
Como o mais estável dos elementos, a terra deveria ser constituída por cubos.
Como o mais inconstante e fluido, a água tem que ser um icosaedro, o sólido regular capaz de rolar mais facilmente.
Quanto ao ar, Platão observou que: "o ar é para a água o que a água é para o ar," e concluiu, de forma algo misteriosa, que o ar deve ser um octaedro.
Finalmente, para não deixar de fora um sólido regular, atribuiu ao dodecaedro a representação da forma de todo o universo.
Por muito excêntrica e fantástica que esta teoria possa parecer aos nossos olhos, nos séculos XVI e XVII foi levada muito a sério, mesmo que não fosse completamente aceite como verdadeira, quando Johanes Kepler começou as suas buscas sobre a ordem matemática no mundo à sua volta. Os desenhos reproduzidos na figura são ilustrações do próprio Kepler sobre a teoria atómica de Platão. Contudo sabemos que estruturas moleculares formam sólidos geometricos e que estas formas conferem qualidades as substâcias, como é o caso do diamante que tem forma cristalina cúbica, e é uma das substancias mais estáveis e duras que conhecemos.





Keith Devlin "Matemática, a ciência do padrões", Porto Editora, 2002.

Sócrates e os Sofistas

Sócrates, o mestre de Platão.
Origem: Wikipédia - Texto verificado por Edson Menezes.


Sócrates (em grego antigo: Σωκράτης, transl. Sōkrátēs; 469–399 a.C.[1]) foi um filósofo ateniense, um dos mais importantes ícones da tradição filosófica ocidental, e um dos fundadores da atual Filosofia Ocidental. As fontes mais importantes de informações sobre Sócrates são Platão, Xenofonte e Aristóteles (Alguns historiadores afirmam só se poder falar de Sócrates como um personagem de Platão, por ele nunca ter deixado nada escrito de sua própria autoria.). Os diálogos de Platão retratam Sócrates como mestre que se recusa a ter discípulos, e um homem piedoso que foi executado por impiedade. Sócrates não valorizava os prazeres dos sentidos, todavia se escalava o belo entre as maiores virtudes, junto ao bom e ao justo. Dedicava-se ao parto das idéias (Maiêutica) dos cidadãos de Atenas, mas era indiferente em relação a seus próprios filhos.



Vamos ver um vídeo que retrata um pouco mais da vida e dos pensamentos de Sócrates:




Os opositores de Sócrates:

Texto I:
Origem: Wikipédia - Texto verificado por Edson Menezes.
Os sofistas se compunham de grupos de mestres que viajavam de cidade em cidade realizando aparições públicas (discursos, etc) para atrair estudantes, de quem cobravam taxas para oferecer-lhes educação. O foco central de seus ensinamentos concentrava-se no logos ou discurso, com foco em estratégias de argumentação. Os mestres sofistas alegavam que podiam "melhorar" seus discípulos, ou, em outras palavras, que a "virtude" seria passível de ser ensinada.
Protágoras (481 a.C.-420 a.C.), Górgias (483 a.C.-376 a.C.), e Isócrates (436 a.C.-338 a.C.) estão entre os primeiros sofistas conhecidos. Protagoras foi o primeiro sofista a aceitar dinheiro (pagamento) dos seus ensinamentos
Diversos sofistas questionaram a propalada sabedoria recebida pelos deuses e a supremacia da cultura grega (uma idéia absoluta à época). Argumentavam, por exemplo, que as práticas culturais existiam em função de convenções ou "nomos", e que a moralidade ou imoralidade de um ato não poderia ser julgada fora do contexto cultural em que aquele ocorreu. Tal posição questionadora levou-os a serem perseguidos, inclusive, por aqueles que se diziam amar a sabedoria: os filósofos gregos.
A conhecida frase "o homem é a medida de todas as coisas" surgiu dos ensinamentos sofistas. Uma das mais famosas doutrinas sofistas é a teoria do contra-argumento. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser contraposto por outro argumento, e que a efetividade de um dado argumento residiria na verossimilhança (aparência de verdadeiro, mas não necessariamente verdadeiro) perante uma dada platéia.
Os Sofistas foram os primeiros advogados do mundo, ao cobrar de seus clientes para efetuar suas defesas, dada sua alta capacidade de argumentação. São também considerados por muitos os guardiões da democracia na antiguidade, na medida em aceitavam a relatividade da verdade. Hoje, a aceitação do "ponto de vista alheio" é a pedra fundamental da democracia moderna.


Texto II:
Os Sofistas – por Émile Bréhier


Sofística era originalmente o termo dado às técnicas ensinadas por um grupo altamente respeitado de professores retóricos na Grécia antiga. O uso moderno da palavra, sugestionando um argumento inválido composto de raciocínio especioso, não é necessariamente o representante das convicções do sofistas originais, a não ser daquele que geralmente ensinaram retórica. Os sofistas só são conhecidos hoje pelas escritas de seus oponentes (mais especificamente, Platão e Aristóteles) que dificulta formular uma visão completa das convicções dos sofistas.

A sofística, ocorreu nos últimos cinquenta anos do século V, não se configura como uma doutrina, mas antes como uma forma de ensinar. Os sofistas são professores que vão de cidade em cidade procurando audiência e que, por um preço conveniente, ensina-a a se destacar, através de lições de ostentação e de vários cursos e métodos cujo objetivo é tornar vencedora uma tese que eles querem que seja aceita. A pesquisa e promulgação da verdade é substituída pela busca do sucesso, baseando-se na arte de convencer, de persuadir e de seduzir. É a época onde a vida intelectual – cujo centro está na Grécia continental, toma a forma de competição e de jogo – uma forma polêmica, muito familiar à vida grega. Tratam-se apenas de teses defendidas ou combatidas pelos antagonistas, os quais um juiz soberano – quase sempre o público – determina um preço. Aristófanes nos mostra este debate entre a tese justa e injusta acontecendo . “Quem é ?” , pergunta o justo. – Uma tese. – Certo, mas inferior à minha. – Você se pretende superior a mim, mas eu tenho a vitória. – Que habilidade você tem, então? – Invento razões novas.” Eurípedes descreve em Antíope este debate sobre o ideal de vida entre o amigo das musas e o homem político. Platão por outro lado, nos mostra Sócrates se esquivando destas competições; no Protágoras Hipías tenta, em vão, promover um debate deste gênero entre Sócrates e Protágoras; no Górgias Cálicles, que mais adiante pronuncia um discurso em favor da justiça natural, se queixa que Sócrates quebra as regras do jogo ao não respondê-lo e fazendo um outro discurso (1). Havia ali uma preocupação da audiência, que conhecíamos mal até agora. O filósofo não revela mais a verdade, mas a sugere e se submete de antemão ao veredito do auditório. Este é um aspecto que permanece: depois da época dos sofistas, tenta-se a missão de definir o filósofo em oposição ao orador, ao político, ao sofista – ou seja, a todos que se dirigem ao público.(2)
Nestas condições, o principal valor intelectual é a erudição que o homem de posse de todos os conhecimentos úteis a seu propósito reúne e a virtuosidade que lhe permite escolher seus temas com o propósito de apresentá-los de maneira cativante. Daí duas características essenciais do sofista: por um lado são os técnicos que se vangloriam de conhecer e ensinar todas as artes úteis ao homem; por outro são mestres da retórica que ensinam como capturar a simpatia da platéia.


quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Complexo de Édipo


FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICO-SEXUAL

Édipo e a Esfinge
Na Psicoterapia Sistêmica as fases do desenvolvimento Psico-sexual são distribuídas de forma diferente da Psicanálise. Na escola de Freud é da seguinte forma: Fase oral/ fase anal/ fase fálica/ período de latência e fase genital. Já a Psicoterapia Sistêmica se apóia na teoria de Freud fazendo algumas alterações: fase oral/ fase anal/ fase fálica e recomeço na pré-adolescência da fase oral/ fase anal/ fase fálica.

Fase oral: de 0 a 18 meses
O bebê é egocêntrico, narcisista e enxerga a mãe como extensão dele (como se a mãe fosse parte de seu próprio corpo). Como se o mundo fosse ele ou que gira ao redor dele. Temos aqui a dependência primária: precisamos literalmente da mãe para sobreviver física e emocionalmente. E quem vai promover ou ajudar a romper com esse egocentrismo é a própria mãe.
A primeira separação que sofremos é com o nascimento. Saímos do nutrido, do calor e somos "expulsos". Nascemos sofrendo o processo de separação. Existem alguns bebês que resistem a esse processo de separação, porque eles percebem que não são desejados (o não desejo de sua existência). Assim, esses bebês possuem menor resistência física e/ou emocional. Já nascem deprimidos ou com pouca pulsão de vida.
A segunda separação é quando o bebê começa a enxergar a mãe como "outra" pessoa. Esta noção (de que a mãe é separada dele) é efetivada quando a mãe tem motivos para voltar aos outros papéis em sua vida : mulher, esposa, profissional, social.
Muitas mulheres agarram no papel de mãe porque se sentem poderosas, reconhecidas e amadas. O filho traz a vida que ela não tem. Ela vai ter um "único" filho neste momento e depois ela pode ir "segurando" os seus outros filhos sucessivamente.
O processo de separação dá-se junto com o final da amamentação. Quando a mãe começa a substituir o peito, criança e mãe sentem muito. Neste momento o bebê vivencia muito ódio, frustração, raiva, angústia, dor, ansiedade, impotência (Fase depressiva, descrita por M. Klein). E a mãe sente ansiedade, angústia, com a possibilidade do bebê não precisar mais dela.
Melaine Klein : Nesta separação, a criança vive a cisão do seio em seio bom e seio mau. Exemplo : Quando a mãe sai (seio mau), a ansiedade é muito grande. Se o bebê sabe que ela vai voltar, ele aprende a esperar. Se ela demora demais ou não está disponível, ele vive o sentimento de abandono e rejeição e se torna muito ansiogênico (esquizo-paranóide). Mas, se também só o seio bom é ativado traz a dependência pura ou simbiose.

·         Todo esse processo é INCONSCIENTE e o EGO (parte do aparelho psíquico que designa a identidade da criança) começa a estruturar quando ocorre a separação mãe-filho.

Fase anal: de 18 meses a 3 anos e meio aproximadamente.
Controle dos esfíncteres. Aqui o bebê vai aprender sobre limites. São dois movimentos: expulsão e retenção.
Retenção : ter/ segurar/ reter/ controlar/ guardar
Expulsão : doar/ eliminar/ excluir/ separar
Tem bebê que demora a reter (a urina e as fezes) e tem bebê que fica retendo (ficando dias sem evacuar).
Aqui estamos aprendendo o equilíbrio em dar e receber, internalizando o “NÃO”. Os cortes e interditos começaram a serem introduzidos na 1ª fase e aqui é introjetado de forma mais efetiva, garantido o surgimento da parte do aparelho psíquico que tem a função de estabelecer os limites = formação do SUPEREGO.
O não é acompanhado de testes . Exemplo: "menino , não ponha o dedo aí !" Ele vai e testa. E quanto mais ele desconfiar do pai e da mãe, mais ele testa esta a autoridade deles. Na verdade, a criança quer ver se pode "confiar" nestas pessoas. Ele está testando a coerência.
Aqui dá-se os primórdios do Complexo de Édipo = a criança testa a coerência e a autoridade dos pais e na verdade ele testa o nível de confiabilidade, coerência e afeto dos pais. Testa também a relação do casal, se tem coerência, se o casal tem afinidades, se estão verdadeiramente juntos ou não.
Assim, a criança vai aprender o que é autoridade. O desequilíbrio é a resistência de sair do narcisismo, do egoísmo (centralização do mudo em si, ou no EGO= estado egóico), da dependência.

Fase fálica : aproximadamente de 3 a 6 anos.

·  Se tudo estiver acontecendo de forma regular, a criança "entende" que a mãe tem um outro "objeto de desejo" que é o seu pai. Neste momento que vai acontecer a "triangulação" ou a questão "edipiana".

Complexo de Édipo Funcional [as expressões funcional\disfuncional devem ser vistas como regular\irregular, isto é, no sentido daquilo que geralmente acontece, e não no sentido de normal\anormal. Vamos pontuar esta questão com um asterisco “*”.]
                                         
O menino "seduz" a mãe. Aqui acontece a primeiro choque entre pai e filho.
O pai é que faz o corte e para isto acontecer, depende da relação estabelecida entre o casal. Essa é a oficialização do PAI INTERNALIZADO.
Aqui acontece a identificação masculina: o menino quer ficar poderoso como o pai para ter uma mulher como a que o seu pai tem. Aqui precisa de um pai tranqüilo do seu papel masculino e de um casal saudável. [Vejam que o conceito de “saudável” usado pela autora é muito tendencioso, na realidade tudo vai depender da interpretação da criança acerca do comportamento do pai, da mãe ou da relação do casal. Assim casais “saudáveis”, podem ser interpretados pela criança de forma diferente, a criança pode maximizar pequenos dados, e minimizar outros, gerando desvios (rupturas, fugas, obscurecimentos, etc.) na interpretação da função e da relação dos pais. Então, não há como controlar a interpretação da criança acerca do papel e da relação dos pais, já que todo o processo é inconsciente e caótico. Toda vez que a autora cometer este erro daqui em diante vamos pontuar com dois asteriscos “**”.]
·         Se essa mãe for viúva por exemplo, um outro homem (tio, padrinho, avô, namorado da mãe) é que deve fazer o corte. Esse corte [a princípio] tem que ser feito por um homem.

Complexo de Édipo disfuncional [*]
1º caso )

                                              
É um casal disfuncional [*]: esse homem não tem desejo e satisfação com essa mulher. Ele pode funcionar como seu pai, filho, inimigo, sócio dela, etc.
Quando esse filho vai seduzir a mãe, ela sente satisfação, porque o marido não corresponde a seus desejos. Então, ela elege o filho como "parceiro" e o marido não faz o corte entre essa mãe e o filho. A mulher simbolicamente "sobe" esse filho para o lugar de "marido" (substituindo a carência marital).
Aqui o filho fica órfão de pai.
Hipóteses para o futuro disso:
·         O filho pode ter muita dificuldade de relacionamento e de se entregar a outra mulher, ficando soltero para cuidar da mãe.
·         Pode acontecer também da mãe não desqualificar o pai, embora esse homem não preencha sua carência afetiva e aí ela fica simbolicamente com 2 homens (pai e filho).
·         Esse filho pode casar, mas somente com uma mulher escolhida pela mãe, que não vai roubá-lo dela. Tem que ser uma mulher forte como a mãe, mas que, enquanto estiver viva não a ameace e que quando ela morrer, essa mulher cuide de seu filho como ela [a mãe] cuidava.
·         Esse homem que ficar com uma mulher não escolhida pela mãe, "fica impotente" na cama ou tem pouco desejo por essa mulher, pois sente que está traindo a mãe.

2º caso)

 A primeira tendência é a mãe fazer simbolicamente do filho o seu "marido".
Essa mãe faz dois papéis: de mulher do filho e de pai do filho, querendo ensinar a  ele como “ser homem”.
·         Uma das hipóteses da homossexualidade está aqui. O filho vai seduzir a mãe, e não tem ninguém para fazer o corte (alguém que execute a função paterna), então, sobrou para ele se identificar com a mãe. Ele cria uma resistência por mulher, porque foi uma própria mulher (sua mãe) que tentou ensiná-lo a ser homem.
·         Essa mãe, na verdade, acha muito bom que seu filho não tenha "outra" mulher. Ele pode até transar com quantos homens quiser, mas nunca com "outra" mulher.
·         Aqui também, pode acontecer dele ficar com raiva de mulher (e não ser homossexual), o que chamamos de misoginia. Ele até tem relações com elas, mas não cria vínculos e afetos com elas, porque ele está casado com a mãe (fica “solteirão”).

3º Caso)

                                 
Esse casal está feliz de ser assim: pai (gênero masculino, papel feminino) e a mãe        (gênero feminino, papel masculino). Aqui não existe angústia, dor. Eles estão satisfeitos com seus papéis.
Então, por instinto o filho seduz a mãe, o pai não faz o corte. É a própria mãe que faz isso, porque ela tem a função masculina do casal e porque ela já tem o seu namorado (que é o marido).
Assim, a mãe não impede que o filho faça a identificação com o pai, porque eles (o casal) têm uma boa relação afetiva. Esse filho se identifica com o pai e vai buscar uma mulher forte como a mãe.
O filho não será homossexual e será um homem mais sensível (como o pai) e vai viver como seus pais vivem.

4º Caso)

Esse casal vive essa troca de papéis, mas a mulher vive muito incomodada e diz:
- "Seu pai é um frouxo!"
Então, a mãe não deixa o filho se identificar com o pai. Ela sutilmente diz:
·         "Não seja igual a seu pai, ele é um frouxo! Seja igual a mim que sou forte!"
·         Aqui a homossexualidade também é uma possibilidade.
·         Assim, ele é homem (gênero masculino), seu papel de identificação (que é a sua mãe) é masculino, ele vai buscar um homem, no papel feminino (como o pai). Ou seja, vai buscar uma figura feminina no gênero masculino, porque o feminino está no pai (no homem). Houve uma "truncagem" edipiana.

Sobre o homossexualidade masculina:
A homossexualidade (tanto o masculina quanto o feminina) é um assunto polêmico e não tem regras do tipo: quando acontece isso, então se dá a homossexualidade. Pode ser que sim e pode ser que não. Na verdade, cada caso é um caso.
A maioria dos homossexuais são de aparência masculina, papel masculino e com desejos e práticas homossexuais. Esses homossexuais não querem deixar de ser e aparecer como homens. Eles querem ser homens, só que desejam um outro homem. Somente uma pequena parcela dos homossexuais possui alteração de gênero. Ou seja, são homens que têm desejo de se transformarem em uma mulher. Eles se sentem como mulher, e não se adaptam internamente, por causa disso são mais agressivos. Aqui o componente suicida é muito forte, porque são muito depressivos ou com fortes traços depressivos. Outros psicotizam, porque não dão conta de lidar com a realidade difícil que é ter um corpo masculino e o sentimento de ser mulher. [Esta psicotização não é uma condição necessária a quem tem alteração de gênero, mas sim uma contingência, uma acaso, que ocorre devido a pressão social. Se a sociedade não exercesse preconceito e pressão sobre estes indivíduos eles não passariam por estas dificuldades e alterações afetivas].
              
·         Os casos de transtornos de gênero (travestis, transexualismo, bissexualismo, etc), são casos mais especiais ainda e que cada um deverá ser melhor entendido. Como por exemplo : se um pessoa com transtorno de gênero fizer um cirurgia para trocar de sexo, não quer dizer que vai fazer uma escolha heterossexual. Poderá ser também uma opção homossexual (Transexuais que são homosseais, isto é, trocam de sexo para ficarem com uma pessoa do mesmo sexo).
·         Uma grande parte dos homossexuais não-assumidos são casados e possuem filhos. Esses homens buscam travestis (que é o estereótipo de mulher), mas na hora das relações sexuais, eles fazem o papel passivo. Eles têm práticas heterossexuais, só que eles têm desejos homossexuais. Muitos deles, ainda, são “machões” e odeiam gays. Eles jamais assumem a sua homossexualidade ou sequer tomam consciência dela. Têm Homofobia: medo do homossexualidade. Se dizem heterossexuais.

Complexo de Electra (Complexo de Édipo feminino) funcional [*]. (dos 3 aos 6 anos aproximadamente)

 A menina seduz o pai, e quem vai fazer o corte é a mãe (se o casal é funcional). A mulher diz para a filha : - Ele é seu pai e é meu marido, meu namorado !
Neste primeiro momento existe a coalizão da filha com a mãe, mas no segundo momento essa filha faz uma aliança com a mãe (passa batom, põe sapato da mãe). Aqui fechou o complexo de Electra.
No complexo de Édipo, o primeiro amor do filho é heterossexual (a mãe) e ele disputa com o pai. Já na questão feminina (Electra), o primeiro amor é homossexual (a mãe), por volta dos 3 anos instintivamente ela se apaixona e seduz o pai, ou seja, trai seu primeiro amor que é a mãe. Aqui aparece um sentimento de culpa que todas as mulheres carregam para o resto da vida. A mulher sempre tem uma grande culpa em relação às suas mães, com muitas dificuldades de terem ou serem diferentes de suas mães. Muitas mulheres não saem desse débito, dessa culpa e muitas vezes buscam uma relação tão difícil como foi a da sua mãe. São os típicos casos de mulheres que se prendem a homens que as maltratam, etc.

Complexo de Electra Disfuncional [*].

Esse casal já assumiu que sua relação não é satisfatória.
Aqui a filha vai seduzir o pai e essa mãe não faz o corte, porque ela não liga (acha até bom). Ele também acha ótimo e essa filha vira (simbolicamente) a filha/esposa, a mulher que esse pai/homem desejava ter.
O que pode acontecer com essa filha no futuro:
·         Ela pode ficar solteirona a vida inteira porque já é casada com o pai.
·         Ela pode casar com outro homem mais velho (o "pai"). Faz uma transferência, e esse homem será muito parecido com seu pai.
·         Ela pode ficar solteira (casada com o pai) assumindo todas as responsabilidades com os outros irmãos e a própria mãe vira sua filha.
·         Também pode acontecer da mãe ficar com ódio desta filha, e se tornarem rivais de fato (disputa edipiana). A mãe pune a filha pelo resto da vida, por ela ser a "queridinha do papai". Ou seja, a filha que o pai ama mais do que a própria esposa, vai ser odiada pela própria mãe. E assim, essa filha fica órfã de pai e mãe.


2º caso ) :
                          
Essa filha torna-se (simbolicamente) a mulher do pai e assim não permite a aproximação de nenhuma outra mulher dele.
Ela vai se identificar com o pai, porque não tem uma mulher para fazer o corte. Ela pode ficar muito masculinizada e pode acontecer, se houver outra filha, dessa ficar muito feminina e até ter uma 3ª irmã que vai ser a filha das duas.
Aqui pode chegar a uma homossexualidade latente ou até emergente (busca na relação com outra mulher: a mãe que não teve).
Observação : Existe a mulher homossexual que ama o pai e odeia a mãe, mas existe também aquela que odeia o pai e defende a mãe, que é anulada e submissa a esse pai.

3º caso)
Aqui o casal é truncado, mas é feliz. Acontece então a filha inicialmente seduzindo o pai, vem o corte dessa mãe e ela vai se identificar com a mãe, que tem o papel masculino. Assim, ela poderá buscar um homem mais sensível como o pai.
Mas se o casal é truncado e não são felizes pode acontecer o seguinte:
A filha seduz o pai, a mãe pode fazer o corte, mas dizer sempre:
- Seu pai é um fraco!
Isto porque esta mãe possivelmente é muito rígida e tem inveja da afetividade do marido. Assim, essa filha fica com dificuldade de valorizar os homens. A mãe não era homossexual, mas a filha pode tornar-se, buscando uma companheira mais passiva. Ela poderá estar vivendo a homossexualidade para a mãe e para ela mesma.

Texto: Jaqueline Cássia de Oliveira - Curso de Prática Sistêmica - Fev/ 2002. Observações do Professor.

Vídeo:

Observem que a fala do vídeo também é cheia de vícios e preconceitos (portanto não tem neutralidade científica), colocando que a relação e a ação CONSCIENTE dos pais, podem alterar o resultado do complexo de Édipo (o que é um erro). Além disso as idéias de funcionalidade, disfuncionalidade, inversão, harmonia, devem ser vistas com cautela, pois também carecem de neutralidade. São expressões datadas. No final do vídeo existe uma advertencia aos pais, que é quase religiosa, sem nenhum rigor teórico. Contudo, fora estes problemas, o vídeo descreve bem o Complexo de Édipo e suas variantes.


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