quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Complexo de Édipo


FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICO-SEXUAL

Édipo e a Esfinge
Na Psicoterapia Sistêmica as fases do desenvolvimento Psico-sexual são distribuídas de forma diferente da Psicanálise. Na escola de Freud é da seguinte forma: Fase oral/ fase anal/ fase fálica/ período de latência e fase genital. Já a Psicoterapia Sistêmica se apóia na teoria de Freud fazendo algumas alterações: fase oral/ fase anal/ fase fálica e recomeço na pré-adolescência da fase oral/ fase anal/ fase fálica.

Fase oral: de 0 a 18 meses
O bebê é egocêntrico, narcisista e enxerga a mãe como extensão dele (como se a mãe fosse parte de seu próprio corpo). Como se o mundo fosse ele ou que gira ao redor dele. Temos aqui a dependência primária: precisamos literalmente da mãe para sobreviver física e emocionalmente. E quem vai promover ou ajudar a romper com esse egocentrismo é a própria mãe.
A primeira separação que sofremos é com o nascimento. Saímos do nutrido, do calor e somos "expulsos". Nascemos sofrendo o processo de separação. Existem alguns bebês que resistem a esse processo de separação, porque eles percebem que não são desejados (o não desejo de sua existência). Assim, esses bebês possuem menor resistência física e/ou emocional. Já nascem deprimidos ou com pouca pulsão de vida.
A segunda separação é quando o bebê começa a enxergar a mãe como "outra" pessoa. Esta noção (de que a mãe é separada dele) é efetivada quando a mãe tem motivos para voltar aos outros papéis em sua vida : mulher, esposa, profissional, social.
Muitas mulheres agarram no papel de mãe porque se sentem poderosas, reconhecidas e amadas. O filho traz a vida que ela não tem. Ela vai ter um "único" filho neste momento e depois ela pode ir "segurando" os seus outros filhos sucessivamente.
O processo de separação dá-se junto com o final da amamentação. Quando a mãe começa a substituir o peito, criança e mãe sentem muito. Neste momento o bebê vivencia muito ódio, frustração, raiva, angústia, dor, ansiedade, impotência (Fase depressiva, descrita por M. Klein). E a mãe sente ansiedade, angústia, com a possibilidade do bebê não precisar mais dela.
Melaine Klein : Nesta separação, a criança vive a cisão do seio em seio bom e seio mau. Exemplo : Quando a mãe sai (seio mau), a ansiedade é muito grande. Se o bebê sabe que ela vai voltar, ele aprende a esperar. Se ela demora demais ou não está disponível, ele vive o sentimento de abandono e rejeição e se torna muito ansiogênico (esquizo-paranóide). Mas, se também só o seio bom é ativado traz a dependência pura ou simbiose.

·         Todo esse processo é INCONSCIENTE e o EGO (parte do aparelho psíquico que designa a identidade da criança) começa a estruturar quando ocorre a separação mãe-filho.

Fase anal: de 18 meses a 3 anos e meio aproximadamente.
Controle dos esfíncteres. Aqui o bebê vai aprender sobre limites. São dois movimentos: expulsão e retenção.
Retenção : ter/ segurar/ reter/ controlar/ guardar
Expulsão : doar/ eliminar/ excluir/ separar
Tem bebê que demora a reter (a urina e as fezes) e tem bebê que fica retendo (ficando dias sem evacuar).
Aqui estamos aprendendo o equilíbrio em dar e receber, internalizando o “NÃO”. Os cortes e interditos começaram a serem introduzidos na 1ª fase e aqui é introjetado de forma mais efetiva, garantido o surgimento da parte do aparelho psíquico que tem a função de estabelecer os limites = formação do SUPEREGO.
O não é acompanhado de testes . Exemplo: "menino , não ponha o dedo aí !" Ele vai e testa. E quanto mais ele desconfiar do pai e da mãe, mais ele testa esta a autoridade deles. Na verdade, a criança quer ver se pode "confiar" nestas pessoas. Ele está testando a coerência.
Aqui dá-se os primórdios do Complexo de Édipo = a criança testa a coerência e a autoridade dos pais e na verdade ele testa o nível de confiabilidade, coerência e afeto dos pais. Testa também a relação do casal, se tem coerência, se o casal tem afinidades, se estão verdadeiramente juntos ou não.
Assim, a criança vai aprender o que é autoridade. O desequilíbrio é a resistência de sair do narcisismo, do egoísmo (centralização do mudo em si, ou no EGO= estado egóico), da dependência.

Fase fálica : aproximadamente de 3 a 6 anos.

·  Se tudo estiver acontecendo de forma regular, a criança "entende" que a mãe tem um outro "objeto de desejo" que é o seu pai. Neste momento que vai acontecer a "triangulação" ou a questão "edipiana".

Complexo de Édipo Funcional [as expressões funcional\disfuncional devem ser vistas como regular\irregular, isto é, no sentido daquilo que geralmente acontece, e não no sentido de normal\anormal. Vamos pontuar esta questão com um asterisco “*”.]
                                         
O menino "seduz" a mãe. Aqui acontece a primeiro choque entre pai e filho.
O pai é que faz o corte e para isto acontecer, depende da relação estabelecida entre o casal. Essa é a oficialização do PAI INTERNALIZADO.
Aqui acontece a identificação masculina: o menino quer ficar poderoso como o pai para ter uma mulher como a que o seu pai tem. Aqui precisa de um pai tranqüilo do seu papel masculino e de um casal saudável. [Vejam que o conceito de “saudável” usado pela autora é muito tendencioso, na realidade tudo vai depender da interpretação da criança acerca do comportamento do pai, da mãe ou da relação do casal. Assim casais “saudáveis”, podem ser interpretados pela criança de forma diferente, a criança pode maximizar pequenos dados, e minimizar outros, gerando desvios (rupturas, fugas, obscurecimentos, etc.) na interpretação da função e da relação dos pais. Então, não há como controlar a interpretação da criança acerca do papel e da relação dos pais, já que todo o processo é inconsciente e caótico. Toda vez que a autora cometer este erro daqui em diante vamos pontuar com dois asteriscos “**”.]
·         Se essa mãe for viúva por exemplo, um outro homem (tio, padrinho, avô, namorado da mãe) é que deve fazer o corte. Esse corte [a princípio] tem que ser feito por um homem.

Complexo de Édipo disfuncional [*]
1º caso )

                                              
É um casal disfuncional [*]: esse homem não tem desejo e satisfação com essa mulher. Ele pode funcionar como seu pai, filho, inimigo, sócio dela, etc.
Quando esse filho vai seduzir a mãe, ela sente satisfação, porque o marido não corresponde a seus desejos. Então, ela elege o filho como "parceiro" e o marido não faz o corte entre essa mãe e o filho. A mulher simbolicamente "sobe" esse filho para o lugar de "marido" (substituindo a carência marital).
Aqui o filho fica órfão de pai.
Hipóteses para o futuro disso:
·         O filho pode ter muita dificuldade de relacionamento e de se entregar a outra mulher, ficando soltero para cuidar da mãe.
·         Pode acontecer também da mãe não desqualificar o pai, embora esse homem não preencha sua carência afetiva e aí ela fica simbolicamente com 2 homens (pai e filho).
·         Esse filho pode casar, mas somente com uma mulher escolhida pela mãe, que não vai roubá-lo dela. Tem que ser uma mulher forte como a mãe, mas que, enquanto estiver viva não a ameace e que quando ela morrer, essa mulher cuide de seu filho como ela [a mãe] cuidava.
·         Esse homem que ficar com uma mulher não escolhida pela mãe, "fica impotente" na cama ou tem pouco desejo por essa mulher, pois sente que está traindo a mãe.

2º caso)

 A primeira tendência é a mãe fazer simbolicamente do filho o seu "marido".
Essa mãe faz dois papéis: de mulher do filho e de pai do filho, querendo ensinar a  ele como “ser homem”.
·         Uma das hipóteses da homossexualidade está aqui. O filho vai seduzir a mãe, e não tem ninguém para fazer o corte (alguém que execute a função paterna), então, sobrou para ele se identificar com a mãe. Ele cria uma resistência por mulher, porque foi uma própria mulher (sua mãe) que tentou ensiná-lo a ser homem.
·         Essa mãe, na verdade, acha muito bom que seu filho não tenha "outra" mulher. Ele pode até transar com quantos homens quiser, mas nunca com "outra" mulher.
·         Aqui também, pode acontecer dele ficar com raiva de mulher (e não ser homossexual), o que chamamos de misoginia. Ele até tem relações com elas, mas não cria vínculos e afetos com elas, porque ele está casado com a mãe (fica “solteirão”).

3º Caso)

                                 
Esse casal está feliz de ser assim: pai (gênero masculino, papel feminino) e a mãe        (gênero feminino, papel masculino). Aqui não existe angústia, dor. Eles estão satisfeitos com seus papéis.
Então, por instinto o filho seduz a mãe, o pai não faz o corte. É a própria mãe que faz isso, porque ela tem a função masculina do casal e porque ela já tem o seu namorado (que é o marido).
Assim, a mãe não impede que o filho faça a identificação com o pai, porque eles (o casal) têm uma boa relação afetiva. Esse filho se identifica com o pai e vai buscar uma mulher forte como a mãe.
O filho não será homossexual e será um homem mais sensível (como o pai) e vai viver como seus pais vivem.

4º Caso)

Esse casal vive essa troca de papéis, mas a mulher vive muito incomodada e diz:
- "Seu pai é um frouxo!"
Então, a mãe não deixa o filho se identificar com o pai. Ela sutilmente diz:
·         "Não seja igual a seu pai, ele é um frouxo! Seja igual a mim que sou forte!"
·         Aqui a homossexualidade também é uma possibilidade.
·         Assim, ele é homem (gênero masculino), seu papel de identificação (que é a sua mãe) é masculino, ele vai buscar um homem, no papel feminino (como o pai). Ou seja, vai buscar uma figura feminina no gênero masculino, porque o feminino está no pai (no homem). Houve uma "truncagem" edipiana.

Sobre o homossexualidade masculina:
A homossexualidade (tanto o masculina quanto o feminina) é um assunto polêmico e não tem regras do tipo: quando acontece isso, então se dá a homossexualidade. Pode ser que sim e pode ser que não. Na verdade, cada caso é um caso.
A maioria dos homossexuais são de aparência masculina, papel masculino e com desejos e práticas homossexuais. Esses homossexuais não querem deixar de ser e aparecer como homens. Eles querem ser homens, só que desejam um outro homem. Somente uma pequena parcela dos homossexuais possui alteração de gênero. Ou seja, são homens que têm desejo de se transformarem em uma mulher. Eles se sentem como mulher, e não se adaptam internamente, por causa disso são mais agressivos. Aqui o componente suicida é muito forte, porque são muito depressivos ou com fortes traços depressivos. Outros psicotizam, porque não dão conta de lidar com a realidade difícil que é ter um corpo masculino e o sentimento de ser mulher. [Esta psicotização não é uma condição necessária a quem tem alteração de gênero, mas sim uma contingência, uma acaso, que ocorre devido a pressão social. Se a sociedade não exercesse preconceito e pressão sobre estes indivíduos eles não passariam por estas dificuldades e alterações afetivas].
              
·         Os casos de transtornos de gênero (travestis, transexualismo, bissexualismo, etc), são casos mais especiais ainda e que cada um deverá ser melhor entendido. Como por exemplo : se um pessoa com transtorno de gênero fizer um cirurgia para trocar de sexo, não quer dizer que vai fazer uma escolha heterossexual. Poderá ser também uma opção homossexual (Transexuais que são homosseais, isto é, trocam de sexo para ficarem com uma pessoa do mesmo sexo).
·         Uma grande parte dos homossexuais não-assumidos são casados e possuem filhos. Esses homens buscam travestis (que é o estereótipo de mulher), mas na hora das relações sexuais, eles fazem o papel passivo. Eles têm práticas heterossexuais, só que eles têm desejos homossexuais. Muitos deles, ainda, são “machões” e odeiam gays. Eles jamais assumem a sua homossexualidade ou sequer tomam consciência dela. Têm Homofobia: medo do homossexualidade. Se dizem heterossexuais.

Complexo de Electra (Complexo de Édipo feminino) funcional [*]. (dos 3 aos 6 anos aproximadamente)

 A menina seduz o pai, e quem vai fazer o corte é a mãe (se o casal é funcional). A mulher diz para a filha : - Ele é seu pai e é meu marido, meu namorado !
Neste primeiro momento existe a coalizão da filha com a mãe, mas no segundo momento essa filha faz uma aliança com a mãe (passa batom, põe sapato da mãe). Aqui fechou o complexo de Electra.
No complexo de Édipo, o primeiro amor do filho é heterossexual (a mãe) e ele disputa com o pai. Já na questão feminina (Electra), o primeiro amor é homossexual (a mãe), por volta dos 3 anos instintivamente ela se apaixona e seduz o pai, ou seja, trai seu primeiro amor que é a mãe. Aqui aparece um sentimento de culpa que todas as mulheres carregam para o resto da vida. A mulher sempre tem uma grande culpa em relação às suas mães, com muitas dificuldades de terem ou serem diferentes de suas mães. Muitas mulheres não saem desse débito, dessa culpa e muitas vezes buscam uma relação tão difícil como foi a da sua mãe. São os típicos casos de mulheres que se prendem a homens que as maltratam, etc.

Complexo de Electra Disfuncional [*].

Esse casal já assumiu que sua relação não é satisfatória.
Aqui a filha vai seduzir o pai e essa mãe não faz o corte, porque ela não liga (acha até bom). Ele também acha ótimo e essa filha vira (simbolicamente) a filha/esposa, a mulher que esse pai/homem desejava ter.
O que pode acontecer com essa filha no futuro:
·         Ela pode ficar solteirona a vida inteira porque já é casada com o pai.
·         Ela pode casar com outro homem mais velho (o "pai"). Faz uma transferência, e esse homem será muito parecido com seu pai.
·         Ela pode ficar solteira (casada com o pai) assumindo todas as responsabilidades com os outros irmãos e a própria mãe vira sua filha.
·         Também pode acontecer da mãe ficar com ódio desta filha, e se tornarem rivais de fato (disputa edipiana). A mãe pune a filha pelo resto da vida, por ela ser a "queridinha do papai". Ou seja, a filha que o pai ama mais do que a própria esposa, vai ser odiada pela própria mãe. E assim, essa filha fica órfã de pai e mãe.


2º caso ) :
                          
Essa filha torna-se (simbolicamente) a mulher do pai e assim não permite a aproximação de nenhuma outra mulher dele.
Ela vai se identificar com o pai, porque não tem uma mulher para fazer o corte. Ela pode ficar muito masculinizada e pode acontecer, se houver outra filha, dessa ficar muito feminina e até ter uma 3ª irmã que vai ser a filha das duas.
Aqui pode chegar a uma homossexualidade latente ou até emergente (busca na relação com outra mulher: a mãe que não teve).
Observação : Existe a mulher homossexual que ama o pai e odeia a mãe, mas existe também aquela que odeia o pai e defende a mãe, que é anulada e submissa a esse pai.

3º caso)
Aqui o casal é truncado, mas é feliz. Acontece então a filha inicialmente seduzindo o pai, vem o corte dessa mãe e ela vai se identificar com a mãe, que tem o papel masculino. Assim, ela poderá buscar um homem mais sensível como o pai.
Mas se o casal é truncado e não são felizes pode acontecer o seguinte:
A filha seduz o pai, a mãe pode fazer o corte, mas dizer sempre:
- Seu pai é um fraco!
Isto porque esta mãe possivelmente é muito rígida e tem inveja da afetividade do marido. Assim, essa filha fica com dificuldade de valorizar os homens. A mãe não era homossexual, mas a filha pode tornar-se, buscando uma companheira mais passiva. Ela poderá estar vivendo a homossexualidade para a mãe e para ela mesma.

Texto: Jaqueline Cássia de Oliveira - Curso de Prática Sistêmica - Fev/ 2002. Observações do Professor.

Vídeo:

Observem que a fala do vídeo também é cheia de vícios e preconceitos (portanto não tem neutralidade científica), colocando que a relação e a ação CONSCIENTE dos pais, podem alterar o resultado do complexo de Édipo (o que é um erro). Além disso as idéias de funcionalidade, disfuncionalidade, inversão, harmonia, devem ser vistas com cautela, pois também carecem de neutralidade. São expressões datadas. No final do vídeo existe uma advertencia aos pais, que é quase religiosa, sem nenhum rigor teórico. Contudo, fora estes problemas, o vídeo descreve bem o Complexo de Édipo e suas variantes.


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